
A ciência está avançando no desenvolvimento de ferramentas para detectar o Alzheimer, mas nenhuma tinha mostrado resultados tão precisos quanto um novo teste sanguíneo divulgado nesta segunda-feira (31), na revista Nature Medicine.
O exame de sangue proposto pelos pesquisadores das universidades de Washington, nos Estados Unidos, e de Lund, na Suécia, não apenas diagnostica a doença, mas também mede o estágio da progressão da demência. O teste analisa uma proteína específica no sangue e pode indicar o grau de comprometimento cognitivo, algo que nem os exames mais modernos atuais fazem.

Os autores do estudo acreditam que a nova ferramenta pode orientar médicos na escolha do tratamento mais adequado, uma vez que as terapias para reduzir o declínio cognitivo são mais eficazes nos estágios iniciais da doença. Além disso, o exame diferencia o Alzheimer de outras causas de demência, eliminando dúvidas diagnósticas.
Os estágios do Alzheimer
O Alzheimer costuma evoluir de forma lenta, mas é progressiva e não tem cura. A partir do diagnóstico, segundo o Ministério da Saúde, a sobrevida média das pessoas acometidas pela doença oscila entre oito e dez anos. O quadro clínico costuma ser dividido em quatro estágios. São eles:
- Estágio 1 (forma inicial): nesta fase, observa-se pequenas alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais. Desorientação espacial costuma ser um dos primeiros sinais.
- Estágio 2 (forma moderada): com o progresso da doença, começam a aparecer dificuldades para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia também estão presentes. A maioria dos diagnósticos ocorre neste estágio.
- Estágio 3 (forma grave): o comprometimento causado pela doença leva resistência à execução de tarefas diárias e irritabilidade. Aparece uma deficiência motora progressiva que causa, por exemplo, incontinência urinária e fecal. Pacientes também enfrentam dificuldade para comer.
- Estágio 4 (terminal): no último estágio, os pacientes já não caminham ou falam. Apresentam dor ao engolir e são propensos a ter infecções intercorrentes.

Proteína no sangue revela danos do Alzheimer

O estudo focou na proteína MTBR-tau243, cujos níveis no sangue refletem a quantidade de emaranhados de tau no cérebro. Os emaranhados de tau são uma das principais causas do Alzheimer: essas proteínas mal-formadas se acumulam e se tornam tóxicas para o cérebro.
Ao analisar amostras de 108 voluntários nos EUA e 55 na Suécia, os pesquisadores constataram que a técnica identificou com 92% de precisão a presença e a gravidade dos danos.

Pacientes com declínio cognitivo leve apresentaram níveis elevados da proteína, enquanto aqueles com demência avançada tiveram concentrações até 200 vezes maiores do que uma pessoa saudável. O teste também distinguiu casos de Alzheimer de outras formas de demência, como aquelas causadas por doenças vasculares ou degeneração frontotemporal.

Alternativa acessível a exames complexos
Atualmente, o método padrão para avaliar Alzheimer é a tomografia por emissão de pósitrons (PET), que detecta placas amiloides e emaranhados de tau no cérebro. Apesar da precisão, o exame é caro, demorado e pouco acessível. “Um teste sanguíneo para tau como este pode ser crucial na prática clínica para popularizar o diagnóstico”, disse o neurologista Randall Bateman, um dos coautores do estudo, em comunicado à imprensa.
A equipe já havia desenvolvido exames de sangue para as placas de proteína amiloide, usados hoje por médicos. Agora, a adição da análise de tau permite um panorama mais completo e até uma forma mais precisa de medir a demência. A tecnologia foi licenciada para a C2N Diagnostics, empresa que comercializa os testes de sangue anteriores.

Futuro com tratamento personalizado
Com terapias recentes aprovadas pela FDA e outras em desenvolvimento, a capacidade de identificar o estágio da doença se torna essencial. “Estamos entrando na era da medicina personalizada para Alzheimer”, afirmou o neurologista Kanta Horie, coautor do estudo. “Exames como este permitirão ajustar tratamentos conforme a progressão”.
Para estágios iniciais, drogas anti-amiloides podem ser mais eficazes, enquanto em fases avançadas, terapias direcionadas à tau ganham relevância.
